sábado, 26 de fevereiro de 2011

Está em dia!

ULTIMATUM

Mandato de despejo aos mandarins do mundo

Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!

Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas

Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo

Nenhuma ideia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma ideia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova

O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada

Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo

Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico

E saudando abstractamente o infinito.

Álvaro de Campos – 1917

Bom, vem isto a respeito do que se passa por cá e também à nossa volta. O anel que dizem que nos defende da ameaça de fundamentalismos de outras religiões está a esboroar-se. Mas o problema não é esse. O problema está também em nós. Não em nós, mas em quem não nos deixa ter futuro. E o grande FP estava tão actual em 1917! Esclareçam-me esta adaptação - será? - da Maria Betânia. Vale a pena ouvi-la.
A grande questão é que 1917 foi há 2 guerras mundiais atrás, antes de umas quantas guerras de libertação, antes de outras tantas de luta pelo petróleo e antes até de duas crises financeiras que nos mandaram para o maneta.
O capital está irremediavel e definitivamente na mão de quem o tem e terá por muito tempo, sempre e sempre à custa da irremediável necessidade de também sempre os mesmos contribuirem para essa igualíssima distribuição "natural" da riqueza. É tão inevitável como existirmos, até que os mandarins sejam despejados. Mas isso não resolve...Estamos mesmo f...O problema é que quando FP o disse, não imaginava que o futuro tinha scuts, tinha parcerias público-privadas, tinha dívida e juros da dívida...Teria sido bem mais violento.
Resta-nos esperar pelo euro milhões ou pelo totoloto. Por falar nisso, vou ver se ganhei, mesmo sem ter jogado.

Augusto

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